segunda-feira, 26 de junho de 2017

Volto logo

Algo muito sutil da natureza humana costuma aparecer em conversas de despedidas breves. 
Não os escândalos e choros convulsivos dos aeroportos. Não as brigas definitivas com seus gritos, ofensas e "nunca mais!". Aquele excesso de emoção transborda nossa capacidade de metabolização, e as cenas ficam sempre meio teatrais, mesmo involuntariamente. Fica aquela sensação de que o momento é/foi surreal, algo bizarro.
Mas as despedidas breves... Os "até logo!", "até quarta-feira!", ou "depois de amanhã eu tô de volta!"...
Esses sim, deixam transparecer um tantinho da nossa forma de ser.
Aquelas conversas de corredor de prédio, com a porta entreaberta, visita e visitado sem saber se já saíram ou se ainda estão. Casos que começam a ser contados quando um nome é mencionado, revelando-se interessantes demais para ficar para depois.
Idas ao portão que duram 30, 40 minutos, naquela coisa do portão aberto, pessoas na calçada, recados, "peraí que vou te dar um pedaço pra você levar pra sua mãe", etc...
"Você soube do que aconteceu com a Vanessa?" - e dá-lhe mais meia hora de papo.
Conselhos, breves lições de moral, alfinetadas, indiretas, pedaços de bolo, vasilhas de comida de domingo, remédios pra tosse do fulaninho, e notícias de falecimento, casamento, divórcio de conhecidos...
Toda a vida se passa ali, naquelas despedidas despreocupadas, leves, agraciadas com a certeza de que não precisam ser marcantes, ou tristes, ou belas, porque as partes voltarão a se ver logo, e haverá mais tempo, muito mais tempo, para se falar sobre tudo.
São as melhores despedidas, e falam tanto de nós, justamente porque não pretendemos dar tudo, e por isso mesmo é que damos o necessário.
São também aquelas das quais mais lembramos quando percebemos que às vezes não há mais tempo.
Às vezes não há reencontro.
Algumas quartas-feiras nunca chegam.



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