quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Os livros esperam



Não importa em que momento da história você parou. Se ainda no início, conhecendo os personagens, se bem no meio da trama, quando alguma reviravolta acontecia, ou se acabou nadando e morrendo na praia, interrompendo a leitura antes dos finalmentes. Não se preocupe: os livros sempre esperam. 
Não é preciso muito: basta um marcador - pode ser daqueles mais sofisticados, de metal, ou mesmo um pequeno pedaço de papel. Tem gente que coloca uma flor, que depois seca. Outros usam notas de supermercado, cartões de visita... O fato é que se você deixar um traço, um rastro, um vestígio de que foi bem naquela página que pousou seus olhos pela última vez, o livro aguarda sua volta. Pacientemente. Calmamente. Elegantemente. 
E como se o tempo não tivesse passado, quando abrir de novo aquele emaranhado de folhas, elas te acolherão, ensinando que para certas coisas não existe prazo: se ainda se lembra da história, continue. Se esqueceu uma parte, volte um pouco, leia algumas páginas para trás. Vá aquecendo a memória n (d) as palavras...
Um livro nunca se queixará de abandono. De descaso, de falta de atenção ou de amor. Nunca dirá, enciumado, que percebeu muito bem como você e aquele escritor que ganhou o último Pulitzer estavam mais unidos. Não te fará perguntas. Não exigirá promessas de que desta vez será diferente, de que a leitura fluirá de forma agradável e sem interrupções, de que você, mesmo estando cansado ou sonolento, não ligará a televisão ou preferirá assistir aquelas séries na internet. 
Não pedirá nada, e não estará magoado. Não é por terem se passado três anos desde que você começou a ler aquele romance, que ele se negará a te mostrar partes fundamentais do enredo. Tampouco dirá o tão frequente "bem feito!" dos renegados, quando você, tendo acabado de ler aquele outro ensaio pelo qual o trocou, concluiu que foi pura perda de tempo. 
Um bom livro não sairá da sua memória, por mais estórias que você conheça. E quando o trabalho permitir, quando a vida se mostrar mais serena, quando os filmes ou os encontros se revelarem cansativos ou repetitivos, chegará o momento de voltar a ele. 
Talvez você  se sinta pelo menos um pouquinho satisfeito ao notar que, ao contrário da vida, das pessoas, e de tantas outras coisas, os livros aceitam seus intervalos, suas pausas, seu tempo. 

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