Pensavam, cada um a seu
modo, que os sentimentos tinham sucumbido aos problemas e ao cansaço. Que a
admiração tinha cedido à preguiça de descobrir outras partes do outro. Que a
tolerância acabara por causa de tantos olhares de reprovação, ou mesmo pela
falta de olhares.
Não se falavam muito, a
não ser trivialidades que deixavam as coisas tão entediantes que se arrependiam
logo em seguida. Comentavam o tempo, a comida, ou alguma novidade da internet.
Enquanto isso,
imaginavam coisas a dizer, histórias para contar, na tentativa de despertar
novamente aquela alegria leve e fácil do primeiro jantar que tiveram juntos.
Mas naquela noite não
conseguiram dizer quase nada, a não ser repetir as mesmas desculpas para
justificar seus erros, e prometer novamente coisas que não conseguiriam
cumprir. O tom de voz era aquele das discussões doídas, do sofrimento
amadurecido, mas não menos intenso. Já não choravam, não havia susto ou
surpresa o suficiente para provocar lágrimas.
Tudo indicava que o fim
havia se instalado. Que ambos deveriam procurar outras formas de suportar seus
medos e outros lugares para buscar suas alegrias. Que era necessário renovarem
suas esperanças, seus sonhos.
No entanto, no meio
daquela conversa dura e seca acabaram adormecendo. Cada um se aconchegou como
pôde, puxou uma parte do cobertor, recostou a cabeça em um travesseiro. Tantas
vezes aquela cama os tinha aproximado, mas naquele dia ela apenas os acolheu,
cada um com suas dúvidas, com seus temores, com suas lutas.
No dia seguinte, ela
levantou mais cedo, coisa que raramente acontecia, e sentiu fome. Preparou uma
boa mesa de café–da-manhã e se serviu. Ele acordou bem depois e sorriu ao vê-la
lavando a louça. Beijou seu pescoço e ligou a cafeteira, dizendo, como fazia há
muitos anos: “Só acordo mesmo depois de tomar o meu café...”
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