quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Presente para si mesmo

Estava entediada numa tarde como todas as outras, quando me veio a ideia de lhe comprar um presente. Muito menos pela generosidade do que pela necessidade de preencher o tempo com algo minimamente pessoal. Sem muita energia, corri os olhos por alguns sites de livrarias e sebos, tentando encontrar o que seria um presente ideal para você.
Depois de quarenta minutos, me vi sem nenhuma ideia de presente, e fazendo uma lista dos livros que eu mesma gostaria de ganhar, caso acontecesse de alguém, um dia, me perguntar qual seria o presente ideal para mim.
Tinha inclusive feito um breve ranking, que obviamente começava com um escritor russo do século XIX, e terminava com um latino mais atual. Nunca entendi muito bem essa minha fixação pela narrativa trágica russa. Talvez a combinação estranha de risos e desespero, de depressão, ironia e palhaçada.
O fato é que me recriminei durante alguns minutos por não só ter me distraído da tarefa de te presentear, como colocado a mim mesma e os meus desejos no seu lugar. Então eu era uma egoísta?
Foi aí que lembrei dos presentes que você me deu, e de como eles se pareciam muito mais com você do que comigo. De como eles apontavam para algo que eu poderia fazer, poderia ser, mais ainda não fazia, não era.
E me rendeu algum alívio perceber que você também se relacionava com uma versão ilusória e otimista de mim mesma, assim como eu me esforçava para te ver deixando de enxergar as suas partes que mais me enfureciam e decepcionavam.
Foi então que entendi que a gente se presenteava usando um ao outro como desculpa.
Que cada um amava o que queria, de si mesmo, através da imagem que suportava e que mantinha do outro. 

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