Estudar a
perversão era um desejo que eu tinha desde os tempos da graduação, e que foi
primeiramente esboçado num texto que escrevi sobre o livro “O colecionador”, de
John Fowles (não, não é o de ossos). Nessa história fictícia, o personagem
principal é desvelado - pensando aqui no sentido de tirar o véu da moral e do distanciamento que a perversão provoca em nós - para além de seus atos criminosos, nos dando acesso a outras facetas de sua personalidade, como a insegurança, a
solidão, e o sofrimento psíquico que advém da culpa. Esses elementos,
conjugados com uma prática violenta – aprisionar e admirar até a morte tanto
borboletas quanto mulheres – demonstram o refinamento do autor no processo de
composição de seu personagem.
Foi exatamente a
idéia - ou a ilusão - de conhecer um perverso mais de perto, questionar seu
comportamento, tentando encontrar, além de sua violência, um sentido, um fio
encadeador em sua história, que me seduziu desde o início.
Seduzida, então,
por um perverso, me vi às voltas com a difícil tarefa de identificar nele algo mais
que a irracionalidade da violência, que a dificuldade de estabelecer laços, que
a maldade pura e absoluta. Foi pensando nesse desafio que iniciei uma pesquisa
de mestrado na UFMG, há três anos.
Apesar de
algumas mudanças no que tange ao referencial teórico, e também à maneira de
conduzir a reflexão sobre o tema, acredito que meu objetivo principal foi mantido
e alcançado. Terminei por analisar um seriado de TV que conta a história de um
assassino em série, privilegiando, nesta análise, os pontos traumáticos
ocorridos durante sua infância e adolescência. Incluir esta parte prática e
ilustrativa fez toda a diferença no produto final, pois isso me protegeu – pelo
menos um pouco, acho – de uma escrita teórica maçante e desconectada com os
fenômenos sociais, algo que eu sempre critiquei e temi.
Dexter – nome da
série, e do personagem principal – me seduziu completamente, ainda mais que o
rapaz das borboletas, e desta vez assumi esse afeto para usá-lo a meu favor. Foi então para entendê-lo, perdoá-lo, e resgatar parte dele que escrevi as cento e
tantas páginas da minha dissertação. Tomando-o como paradigma dos protagonistas
de atos violentos que parecem retalhar nossa capacidade de identificação,
tentei salvar Dexter do julgamento apressado e da classificação imediata:
monstruosidade.
O livro que lanço em setembro - mas já
está à venda na Amazon - é uma versão desse trabalho que realizei no mestrado.
Traz um percurso teórico interessante sobre o tema no contexto da psicanálise,
acompanhado do diálogo do caso Dexter com as idéias dos autores que li. São eles: Joyce McDougall, que faz contribuições bem originais sobre a perversão a partir de um referencial winnicotiano; René Roussillon e Claude Balier, que abordam as fragilidades narcísicas existentes nestas patologias que se exprimem através da violência; Gerard Bonnet, autor que trabalha a perversão a partir da lógica da sedução originária; e Jean Laplanche, cuja leitura é imprescindível quando se trata do polimorfismo da sexualidade.
Em breve postarei mais informações sobre o lançamento.
Para comprar o livro:
Ebook:
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