sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

À la Pierre Weil

Eis que quando você se supera na hipocrisia ao contrário, dizendo pra si mesma que "tudo bem, isso não é uma questão para mim", seu corpo ri da sua cara.
Você constrói essa atitude de que não está sofrendo por alguma coisa, de que está tudo resolvido dentro do seu psiquismo, e de que "quando quiser, tudo vai acabar tomando seu devido lugar". E repete isso - internamente - com tanta convicção, que seu ego - que não é lá muito esperto - acaba por acreditar. Daí você leva sua vida normalmente. Quer dizer, em termos...
Porque aí vem a insônia e simplesmente se senta no seu colo. E não se levanta até a hora em que você precisa ir trabalhar. Aí, sim, ela sai de cena, e aparece um sono avassalador.
Isso é o seu corpo te chamando de idiota.
A falsidade que podemos impor a nós mesmos não costuma ter limites. Existem cenas clássicas, como a de sair com amigos e forçar a barra na alegria quando se está muito deprimido, ou a de manter um vínculo - seja ele qual for - com aquela pessoa que você já não suporta, mas tem medo de se perguntar por quê. Deste modo, impelida por essa força estranha, a pessoa pode se oferecer doses gigantescas de constrangimento, infelicidade, frustração, e alguns episódios de puro mau gosto quanto à estética da vida.
É por isso que eu admiro a raça, a bravura do corpo.
Você tá lá, toda blasé, olhando de lado, considerando cafona conversar sobre aquele assunto, e enquanto isso, a doença vem e se instala, chega com as malas e pega logo o melhor quarto.
Dá-lhe tosse, febre, dor e fadiga. Tudo bem, é só uma gripe.
Não é, meus queridos. Confiem em mim.

Um comentário:

Administrador do Inútil disse...

Ótimo texto!!! Nem Freud escreveu palavras tão bonitas sobre a histeria..