Sempre teve como princípio não sentir ciúme.
Princípio, porque era quase uma filosofia. Um estilo de vida.
Para ele, sentir ciúme de alguém era inútil, uma perda de tempo, mesquinho e infantil.
Vez ou outra se flagrou experimentando sensações estranhas, um rascunho de raiva, um naco de inveja, uma pontada de insegurança e de medo.
Ignorou todas elas.
Era preciso ser prático: de que adiantaria se martirizar com pensamentos de que ela poderia perceber o quanto tinha errado ao se apaixonar por ele? Ou pior: de que valeria que alimentasse a ideia de que todas as mulheres que teve, ou ainda teria, poderiam se dar conta da farsa que ele era, como amante?
Pois essa possibilidade sempre existiu, e não seria por reforçá-la com medos e paranóias que se tornaria menos plausível.
Fez então uma escolha - muito consciente - de assumir que sim, poderia ser abandonado a qualquer momento, sim, poderiam descobrir que seus esforços nunca foram suficientes, e sim, poderia se ver, de uma hora para outra, sem a companhia dela. Sem suas risadas, sem seus olhos cor de chocolate, sem seus recados no meio do dia, sem seus beijos.
Mas, caso isso acontecesse, não enfrentaria o ridículo luto dos apaixonados. Não se permitiria mendigar afetos, não voltaria a ficar exposto.
Preferira dividir a decepção e o fracasso que poderia viver no futuro em doses homeopáticas, que ia sorvendo dia após dia.
É verdade que ainda assim a ausência dela o faria sentir saudade, mas esta seria devidamente aplacada por cargas extras de trabalho e preocupações com a família.
Deste modo, poupava-se da tristeza que porventura poderia sentir.
Recusava,de antemão, tanto o ciúme, quanto o pavor que ele carrega, o medo de não ser amado.
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