Na semana passada fui ao cinema assistir Homem de Ferro 2. Sim, eu vi este filme. O que a gente não faz por uma boa companhia... mas apesar da bobagem já esperada e característica de todo filme de ação feito para fazer os olhos masculinos brilharem, uma cena em particular me chamou atenção. Tratava-se de um filme que o pai do futuro super herói metálico – ainda criança na cena – gravava para que o rebento assistisse, muitos anos mais tarde, e soubesse das pesquisas científicas que o genitor realizava. Nesta cena o ocupado papai de ferro tentava falar para uma filmadora sobre todas as suas descobertas no campo da física, enquanto o pequeno pupilo retirava peças das maquetes imponentes que se localizavam no imenso escritório do pai. Ao fazer isso, a criança, com cara de sapeca, parecia buscar o olhar paterno, esboçando um escode-esconde com os materiais de trabalho que estavam naquela sala. Mas Dr. Metálico não achou nada engraçado. Repreendeu o menino e chamou alguém, - que me pareceu ser a babá – para retirar a criança dali, deixando-o com seus afazeres importantes.
Cena mirabolante, fantástica, típica dos filmes de super heróis? Não. Aliás, poderíamos dizer que de tão banal, ela poderia ter se passado em qualquer lugar do mundo, com pais e meninos comuns, e seria fácil buscar na memória um evento parecido ocorrido em nossa própria infância. Pais e mães ora ou outra acabam perdendo a paciência com seus filhos. Mas este não é um grande problema: todos temos que lidar com as limitações dos outros em relação aos nossos desejos.
Em outros momentos do filme, Tony Stark (ou Homem de Ferro) refere-se a seu pai como um homem ocupado demais para ser incomodado com as questões e os problemas do filho, que teria ficado aliviado com a ida deste para um colégio interno, longe o suficiente para afastá-lo da problemática da paternidade. Ressentido, Starkizinho acabou se tornando afetivamente tão alheio ao pai quanto este sempre lhe parecera.
Até aí tudo bem. Psicologicamente compreensível, drama batido próprio das HQ: ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém me chama de meu amor... quem poderá me defender? Eu mesmo! Cresço e viro um super poderoso. Idéia mais ou menos repetida, com mais ou menos criatividade, em muitas histórias dos heróis modernos. Mas eis que, num dado momento, outra ceninha me surpreende. Stark descobre que o pai tinha lhe deixado uma pista fundamental para resolver um problema com o qual já quebrava a cabeça. Escondido num cantinho da casa, lá estava o mapa da mina: a peça que faltava para o fim de seus tormentos... O Homem de Ferro, agora agradecido, passa a ver o pai com outros olhos. Quase como se ele dissesse: meu pai não foi negligente, ausente, distante... foi genial, e suas descobertas são o legado que me deixou.
Ops! Momento de raiva no cinema. Como assim? Aquele sujeito malvadão, egoísta e insensível passou a ser modelo de paternidade? O que será que eu perdi?
No dia seguinte ao cinema fui ao Subway comer um sanduíche e me sentei de frente para uma mesa onde estavam um pai, uma mãe e dois filhos. Enquanto o casal discutia, um dos meninos se mexia como uma macaca de auditório: dava pulinhos, batia palmas, gritava, rodopiava, deitava metade do corpo em cima da mesa, e daí por diante. Concentrados na briga, os pais continuavam trocando palavras em voz baixa – que pela cara que faziam não pareciam ser nada bonitas – e nem se davam conta do escândalo do menino. Além de todo o restaurante, o irmão mais novo também notou a bizarrice da cena, e perguntou, em sua linguagem infantil e adoravelmente sincera: - Irmão, por que você faz assim tão alto se eles não tão te vendo?
O guri, apesar de seus poucos aninhos, se incomodava com o apelo patético do irmão pela atenção dos pais. Estes, cegos demais para notarem o filho, tinham problemas mais sérios para tratar...
O Homem de Ferro se tornou rico, poderoso, adorado, temido, e absolutamente desenvolvido tecnologicamente por causa do pai. Herdou fortuna, talento, e empresas do velho Stark. Mas há um aspecto trágico na história: nunca pôde captar o olhar paterno. Se tomou conhecimento do amor que seu pai tinha por ele, não foi através do relacionamento dos dois. O velho Stark, mesmo estando ao lado da criança, prefere falar ao filho dirigindo-se a uma câmera.
Nem sempre sanduíches ou sorvetes são provas de amor. De que adianta ser forte como ferro, sendo, para quem se ama, invisível?
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