sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Sem calcinha


- Sem calcinha.- ele disse.
- Hã?
- Sem calcinha. Quando voltar quero que você venha sem calcinha. De saia, ou de vestido, se preferir... sem nada por baixo... entende?
- Hum.
- Vai vir?
- Não sei.
- Ah,vai... tô te pedindo...
- Pra quê? Que idéia é essa,agora?
- Sei lá. É tipo uma fantasia que eu tenho. Você chega, eu te agarro e pá!!!!
- Sei...

Breve silêncio enquanto ela amarra os cabelos num rabo-de-cavalo olhando-se no espelho do banheiro. Acabavam de fazer amor. Ele ainda deitado, pensativo, na poltrona. Ela, só de calcinha, admirava os próprios seios. Rompeu o silêncio:

- Pois eu tenho outro tipo de fantasia...

Andou até o sofá e sentou-se ao lado dele, passando a mão em seus cabelos úmidos de suor.

- Qual? Fala! - os olhos dele exprimiam uma voracidade absoluta.
- Eu entro.
- Não. Você bate na porta e eu vou abrir...
- Cala a boca! A fantasia é minha. Vai ouvir ou não?
- Fala.
- Eu chego. Entro sem bater. Chamo e você vem caminhando na minha direção. Depois mando você tirar a roupa e deitar na cama...
- Insossa.
- Quê?
- Fantasia insossa essa sua.
- Você deita na cama , e eu deito por cima. Chego bem pertinho do seu rosto. Tão perto que dá pra sentir sua respiração. Faço que vou te dar um beijo...e é aí!!!! Nesse ponto!
- Nesse ponto o quê?
- Nesse ponto, quando eu devia te beijar... eu te bato.

Ele ri. Ela prossegue:

- Mas não um tapinha no rosto, que isso é coisa de mulherzinha. Uma boa bofetada. Dessas de tirar sangue... Murros... muitos socos nesta sua cara de bobo, de babaca seduzido. Uma surra completa, isso é o que seria! E com direito a chutes, chicotadas, e cinzeiros jogados na cabeça. Deixar o quarto todo quebrado, a cama toda suja deste seu sangue imundo.

Silêncio. Ele visivelmente assustado.

- Depois sabe o que eu faria?
- Hã?
- Me vestiria e iria embora. Sem calcinha.

Ela ri. Ele se levanta, vai ao banheiro, lava o rosto e diz:

- Você não entende nada de fantasia sexual.

9 comentários:

Fabio Bispo disse...

Muito bom o conto! Deu pra sentir o susto do garoto... (eu, hein!)kkkkkk... Achei o final excelente, a última frase. A última frase de um conto é mto importante - é como o final de uma sessão de análise -, pode tanto tanto salvar um texto ruim, quanto manter a dignidade de um bom texto. O ruim é que também pode azedar o leite. A última frase resume o estilo do conto inteiro (humor, sarcasmo, sutileza e síntese - o sadismo, é só disfarce, é só artifício, não é o principal)

Larissa Bacelete disse...

Yeeeeeeeesssssssss!!!!!!!!!-ela fica satisfeita com os elogios do público.
rs

Fabio Bispo disse...

ela ama ser elogiada! srsrs... mas ela merece!

Beco do cochicho disse...

É um bom conto... com estilo e uma pidada de humor no seu desfecho!

voltarei...em um proximo conto
att
Beto

Érika Amanda disse...

gostei dela!

Luciana F. Righi disse...

Adorei o conto....rssss....envolvente até fim...

H. disse...

uau!

Lee M. disse...

Me lembra uma antiga namorada... mmm... qual é mesmo o telefone dela? vou indo, depois continuo o comentário!

Verlaine Freitas disse...

Muito bom mesmo. Começa como se tivesse q ser tomado pelo valor de face; depois desliza para algo como uma narrativa interrompida por uma semi-reflexão interna; no fim, mostra a que veio: uma ironia que desloca, deixando-nos onde já estávamos, mas agora um tanto perplexos pela sinceridade do real em sua insipidez.